Arquivo mensais:dezembro 2011

A Sala São Paulo e sua região representam o abismo social brasileiro.

Hoje fui a Sala São Paulo, localizada ao lado da Estação Júlio Prestes, no centro velho da capital paulistana.

Com sua finíssima, moderna e européia estrutura para concertos, a Sala São Paulo parece ser um mundo à parte da sua região.

Dentro da Sala, na simples, mas charmosa Cafeteria, duas taças de champagne são servidas por R$ 32,00. Consumindo-as está um “meio-jovem” e “meio-nobre” casal. Antes de sentirem o prazer do líquido envolvendo suas gargantas eles brindam, talvez pela felicidade de ambos ou para que o espetáculo que estava por vir fosse agradável aos seus ouvidos.

Do lado de fora, a cerca de 100 metros da Sala, há uma movimentação intensa de pessoas que também gastam R$ 32,00 para consumo, mas o produto comprado não será consumido em uma bela taça mas sim nos cachimbos improvisados feitos com latas de alumínio e tubos de pvc.

Entre este abismo social, intelectual e humano está um carro da Polícia Militar fazendo a barreira entre os “nobres” e os “nóias”.

Dentro da Sala, no horário marcado, todos já estão sentados em suas poltronas quando é tocado o terceiro sinal. As portas são fechadas e ninguém mais entra na sala onde o Coral da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – se apresentará por cerca de uma hora e meia.

Vozes competentes levam os espectadores ao delírio a cada nota, o visual da sala é claramente inspirado em salas de concertos européias, ali dentro, com o olhar voltado para a beleza do espetáculo você sente-se isolado do mundo.

Do lado de fora, continua o consumo do Crack, lá eles também estão com o olhar vidrado, mas o espetáculo que eles enxergam é a fumaça que sai de seus cachimbos e o impacto instantâneo que aquilo causa em suas mentes.

Lá dentro, a alucinação causada pela bela obra clássica é saudada com palmas como forma de agradecimento do público aos artistas e, como resposta, a tradicional saudação dos artistas curvando-se em direção a platéia.

Lá fora a alucinação causa desespero, agonia e a necessidade de conseguir mais dinheiro pois o efeito passará em breve e será necessário o novo show do Crack na vida daquelas pessoas.

Entre os dois mundos, permanece imóvel a viatura da Polícia Militar, sabe que está ali representando o biombo entre as “duas sociedades”.

Após o espetáculo vi que em uma das portas há uma placa informando “Camarote do Governador”. Acredito que ele nunca tenha aparecido por ali, ou então, certamente antes de seu comparecimento, algum orgão estadual passou com sua “vassoura” para espalhar os “moradores” da região.

Hoje cheguei a conclusão que a Sala São Paulo e sua região representam o abismo social brasileiro.

Mídias Sociais ou Médias Sociais?

Hoje reparei uma coisa, não sei se sites como o Facebook  devem ser classificados de Mídias ou Médias Sociais.

Muitos podem me chamar de desinformado argumentando…. “Será que ele está louco? As mídias sociais estão se tornando instrumentos importantíssimos na queda de governos repressores, como por exemplo, na Primavera Árabe. E ele ainda vem chamar de média?”.

Além disso também podem dizer….  “Ele não deve se lembrar do rapaz que foi sequestrado e morto, porém foi localizado por seus familiares rapidamente, graças a sua irmã que postou uma foto dele e milhares de brasileiros a compartilharam.”

Penso em desistir de continuar escrevendo, afinal, devo realmente estar sendo injusto acusando grande parte de meus amigos das Médias, ops, Mídias Sociais – que realmente conheço-os no mundo real – de fazerem “média online”.

Claro que a média online não é exclusividade daquele pessoal que fica do lado esquerdo do meu perfil no Facebook, ele está espalhado do lado esquerdo de todos os perfis cadastrados no site.

Vejo, vindo da mesma pessoa, posts do tipo “Meu time é f…., basta ele para eu viver” e na sequência alguma “causa nobre” sendo defendida, por exemplo, nas últimas semanas, as discussões sobre a construção da usina de Belo Monte – impulsionadas por um clipe com atores “globais” – e os discursos de “para onde irão as populações ribeirinhas”, ou ainda, “vamos alagar uma área enorme de nossa floresta”.

Outra “causa nobre” é também a foto de um índio sendo arrastado a força, e com força absolutamente desproporcional, por agentes da lei também por conta da desocupação para construir a usina. Meu Deus, se neste post, eu colocar uma foto qualquer de uma criança chorando e dizer que é uma família que está sendo despejada vocês irão acreditar e compartilhar? E o que dirão para defender a minha farsa?

Será que algum dos meus amigos defensores de “causas tão nobres” deixaria de ir no jogo de Domingo para ir a uma passeata contra a construção da usina ou, ao ser convidado para o evento, simplesmente “clicaria em Eu vou” para fazer número e imaginar que esteja fazendo sua parte?

Tudo bem, você não quer perder seu tempo com os amigos com isso, ok. Por quanto tempo, sentado na mesa de um bar, você discutiria sobre esse assunto com seus amigos, defensores online desta “nobre causa”? No máximo cinco minutos até que um dissesse “Mas que assunto chato heim”, e então voltariam a falar de futebol.

Assisti a um vídeo feito por alunos da Unicamp que traz alguns contrapontos em relação ao vídeo dos globais, este, infelizmente, não ví sendo divulgado pelos “bem-feitores online”. Por qual motivo? Será que já haviam assinado o “Movimento Gota D’Água” já que era rapidinho e os artistas globais até te esperavam fazer isso?

Não sou contra nem a favor da construção da Usina. Quero me informar mais por mídias com ideologias diferentes antes de me posicionar. Eu também não sei se deixaria o jogo de domingo para ir a uma passeata, mas certamente vocês não me verão “postando” nas Médias Sociais, digo, Mídias Sociais coisas por fazerem parte das “causas nobres” ou em defesa das “injustiças sociais” divulgadas “online” que, na grande maioria das vezes, não possui o devido respaldo na “vida real”!

Ahhh, pra fechar a idéia, no caso da Primavera Árabe, eles foram para as ruas, por isso o movimento deu resultado. Se os reprimidos tivessem apenas clicado em “Eu vou” em seu perfil do Facebook, certamente os ditadores continuariam em seus cargos até hoje.