Enquanto civilizados
Nos matamos,
Nos enganamos
Nos estupramos
Enquanto seres humanos
Nos dividimos em raças
Em religiões
Em cores
Enquanto das mesmas cores
Nos dividimos em países
Em estados
Em cidades
Enquanto em cidades
Nos dividimos em zonas
Em bairros
Em ruas
Enquanto em ruas
Nos dividimos em grupos
Em vizinhos
Em casas
Enquanto em casa
Nos dividimos em hábitos
Em quartos
Em umbigos
Enquanto civilizados
Somos tão divididos
Que nos falta apenas uma coisa.
Civilidade!
(10/03/2019)
Nas redes sociais,
Nas revistas semanais,
Na Caras,
Ou nos jornais
As pessoas são óbvias,
São previsíveis,
Estão vazias,
Obviamente, vazias!
Os sorrisos, as poses, a alegria,
Olhando no fundo dos olhos,
Meu Deus,
Quanta agonia!
A necessidade de parecer
Está muito acima de ser,
Da plenitude do momento,
Viver!
A obrigação de estar feliz,
Nos leva a mostrar,
Algo que conosco,
Simplesmente não condiz!
Por mais visível que seja:
Mostramos de tudo,
Falamos dos outros,
Pensamos em tudo,
Somente para fugirmos…
Do nosso óbvio vazio!
(07/03/2019)
E se a cada coisa que não concordássemos
Ao invés de dizermos não, não e não
Passássemos a dizer
E… por que não?
E se parássemos e dividíssimos
Em pequenas partes e para cada uma delas
Peguntássemos
E… por que não?
E se para cada uma das respostas que encontrássemos
Que certamente apoiariam no nosso primeiro não, perguntássemos
Mais duas ou três vezes
E… por que não?
Será que se fizéssemos isso
Ao invés de dizermos não, não e não
Não passaríamos a dizer
Sim, sim e isto não por isso e isso?
Será que se fizéssemos isso
Ao invés de brigarmos
Não passaríamos a encontrar novos caminhos?
Não encontraríamos mais convergências do que divergências?
Será que se fizéssemos isso
A maioria não diria
Não à filmagem!
Não
E, um
(28/02/2019)
Áudios vazados
Vídeos doentes
Coisas claras
Negadas, inconsequentes
Algumas vezes
Fogo amigo
N’outras
Fogo parente
Gente despreparada
Até pra mentir?
Como anda a nossa vida
Neste clima doente?
No Brasil acima de tudo
Falta Deus acalmar a cabeça de todos
Afinal, parece mesmo que domar o poder
É coisa pra gente inconsequente.
Há 60 anos
Negar o óbvio era possível
Nestes dias
Escondê-lo é impossível
Seja vermelho
Seja verde e amarelo
De camisa falsificada
Ou até mesmo de terno
Nossos governantes
Meus companheiros
São autênticos
Pés de chinelo.
(20/02/2019)