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Doudou

Não prometo estar contigo todos os dias,

sei que não cumprirei.

Não prometo a última moda,

sei que não cumprirei.

Não prometo nada materialmente grandioso,

não me importo com isso.

 

Prometo estar contigo todos os dias,

que realmente precisar.

Prometo aquilo que for necessário,

para viver neste novo mundo.

Prometo mostrar o que conheço de cultura,

pois creio que isso pode mudar tua vida.

 

Assim, quando eu não puder mais te acompanhar,

nem mesmo quando precisares.

Terei certeza de que estive,

muito longe de quem gostaria de ter sido.

Mas que te mostrei,

tudo aquilo que gostaria que acreditasses.

Michelle: uma italiana brasileira.

Era uma tarde fria de inverno, como tantas outras, na cidade de Curitiba. Uma jovem de estatura mediana, já em trabalho de parto, entra lentamente em um hospital público da cidade. Os médicos já a conheciam, não pelo nome, mas já sabiam que ela havia feito algumas consultas de seu pré-natal naquele mesmo hospital.

Sabiam que se tratava de uma menina humilde do bairro, alguém como muitas outras paranaenses e, por que não dizer, brasileiras. Grávida e sem dinheiro para dar moradia, alimentação e educação dignas ao seu primogênito.

Os enfermeiros perceberam que o bebê estava para nascer. Correria pelos corredores do hospital. Primeiro, colocaram-na em uma cadeira de rodas. Ao passarem correndo em frente à recepção, pediram que já acionassem a médica de plantão e entraram apressados no elevador. Subiram direto para o quarto andar onde os partos eram realizados.

Na saída do elevador trocaram a cadeira de rodas por uma maca surrada e de rodinhas parcialmente emperradas. Passaram pelo grande corredor verde clarinho com flores nas portas de alguns quartos e, em muito pouco tempo, atravessaram a porta que divide o corredor da sala de parto. Em menos de 5 minutos a jovem que entrou caminhando calmamente pela porta da frente do hospital, já estava vestida com um avental azul usado pelos pacientes e frente a frente com a médica que seria a responsável pelo parto.

Neste momento duas histórias se cruzam exatamente do mesmo modo que outras idênticas se cruzavam em São Paulo, no Recife, em Nova Iorque e em Milão.

A médica e a gestante, a responsável por dar a luz e a responsável por ajudar neste processo se olham. A doutora, em bom português e com sotaque de estrangeiro diz: “Vamos mãe? Podemos começar?” Com um aceno de cabeça e uma contração involuntária tem início então mais um parto daquela obstetra italiana nas terras descobertas por Cabral.

O parto não apresentou qualquer contratempo, mas por ser um parto normal, deve ter levado mais ou menos duas horas. Tempo em que a médica permaneceu dando todo o apoio, tanto médico quanto psicológico para aquela menina que estava sozinha durante aquele momento importante. Não havia pai, mãe ou irmão nem ninguém junto a ela no hospital.

Quando perguntaram a respeito do namorado ou marido, respondeu que a vida toda ela havia sido sozinha e que neste momento não esperava nada diferente disto. A médica compreendeu que este caminho deixaria a paciente nervosa e, apertando sua mão disse novamente com seu sotaque italiano: “Mais um pouquinho e já vai nascer”.

Cinco minutos passaram-se e o choro de Michelle eclodiu pelo o ambiente. Nascia então mais uma brasileira.

A médica parabeniza a nova mãe, dá-lhe um beijo na testa, as últimas instruções aos enfermeiros e sai apressada da sala para atender outro caso parecido.

A equipe finaliza os procedimentos e leva a mãe até o quarto. O bebê vai tomar seu primeiro banho e ganha suas primeiras roupas. Algumas ONGs recolhem doações e deixam nas maternidades de Curitiba já que casos como estes não são muito incomuns no dia a dia dos hospitais.

São dez horas da noite. Faz muito frio no Sul do Brasil nesta época do ano. Os enfermeiros passam no quarto para medir a pressão da mãe e dizem que ela terá alta no dia seguinte pela manhã e a informam também que por causa da temperatura demasiadamente baixa naquela noite, a criança dormiria no berçário por ser este um local aquecido. Explicaram que não seria bom para a recém-nascida passar aquele frio já em sua primeira noite de vida.

A mãe concorda com a cabeça, assim como fizera no início do parto só que desta vez ela tem um sorriso no canto da boca. Os enfermeiros associam aquela imagem à felicidade que toda a mulher sente ao ser mãe. Viram as costas e voltam correndo à sala de parto onde novas histórias se cruzavam. Outra jovem em trabalho de parto, outra vez a médica italiana, outra vez sem qualquer apoio da família ou companheiro.

Estamos no início da década de 1990, Michelle tem pouco mais de 5 horas de vida.

São três e pouco da manhã. A jovem mãe de Michelle levanta de sua cama, já está razoavelmente bem fisicamente e vestida com a roupa que chegou ao hospital, caminha na ponta dos dedos até a porta do quarto. Não desejava acordar nenhuma das outras duas pessoas com quem estava dividindo o quarto. Chega à porta e empurra a maçaneta vagarosamente para baixo. Ouve o clique. A porta se abre lentamente. Com todo o cuidado para não ser vista ela coloca a cabeça para fora, olha para os dois lados do corredor. Escuta o barulho do elevador abrindo a porta. Apressada, volta a cabeça para dentro do quarto e encosta a porta. Espera por alguns instantes, estática, sem sequer respirar, atrás da porta. Escuta os passos apressados de duas ou três pessoas passando pelo corredor e o barulho seco das portas da sala de parto sendo aberta, em seguida vem o “nhec-nhec” das molas que as seguram.

Neste momento, ela volta a abrir a porta e colocar a cabeça para fora.

Tudo livre, agora dá.

Levanta a cabeça e disfarçando as dores que ainda sentia caminha até o elevador e desce para o térreo. Sem qualquer dificuldade sai da maternidade e volta para o lugar de onde saiu barriguda por volta das nove horas da noite do dia anterior.

Os sistemas de monitoramento por câmeras ainda custavam muito caro. Os valores eram impeditivos para que os hospitais públicos fossem equipados com eles. E com isso, a mulher que entrou no hospital em trabalho de parto e que sorriu ao saber que Michelle não dormiria ao seu lado naquela noite, deixara o hospital sem deixar qualquer rastro. Deixara para trás sua menina que sequer conheceu.

No dia seguinte, por volta das 11:00h a médica italiana é informada da fuga da jovem mãe. Como morava há pouco tempo no Brasil e sem possibilidades biológicas de gerar uma criança a médica não se conforma com a atitude da jovem por julgar absolutamente infantil.

Como pode alguém deixar um filho de lado? Pensava consigo.

Mesmo com o dia coberto por atendimentos, a médica italiana consegue um tempo e vai até o Juizado da Infância e Juventude de Curitiba e se informa sobre o processo de adoção no Brasil. Após mais de seis meses de burocracia, consegue enfim a certidão de nascimento de Michelle, que até aqui não tinha sobrenome, passa a chamar-se Michelle Zanini.

Após pouco mais de três meses a médica volta para a Itália, vai morar em Milão ao lado de sua mãe e seu pai e cuidar de sua filha. Ela gosta do Brasil mas entende que a Itália dará mais condições para Michelle.

A pequena cresce italiana sem saber que é brasileira. Na adolescência descobre-se brasileira. Descobre que sua história teve um começo diferente daquelas de seus amigos. Descobre que sua origem está a mais ou menos 10 horas de avião de onde mora. Descobre-se Curitibana.

Estuda na Itália até completar a “Università Cattolica del Sacro Cuore – Sede di Milano” e depois vai morar por uns tempos em Paris.

Ficamos amigos por fazermos aula na mesma escola de francês. Michelle nos conta sua história com um brilho nos olhos. Diz ter orgulho de ser brasileira. Ama o Brasil. É encantada por literatura brasileira. Descobriu recentemente Jorge Amado e se apaixonou por ele.

Mesmo sem saber uma palavra em português, quando estávamos conversando em nossa língua materna e ela chegava, pedia que continuássemos falando em português. “Pas de problème. J’aime bien écouter le portugais du Brèsil”.

Em uma noite fria, após sairmos de uma festa e não ter mais o metrô funcionando, pegamos um ônibus para voltar para casa. No caminho ela afirma com os olhos marejados: Não entendo o motivo de ter sido deixada na maternidade. Digo a ela que as coisas na década de 1990 eram muito complicadas no Brasil e que havia muitas pessoas sem condições de criar um filho. Ela olha com certa desconfiança. Não acredita no que acabo de dizer. “C’est vrai”, reafirmo.

Pergunto a ela se gostaria de conhecer sua mãe biológica, ela responde sem titubear “Oui, bien sûr”, literalmente, sim com certeza e continua: “minha mãe acha desnecessário este contato, acha que eu não preciso disso. Acho que é ciúmes.”

O ônibus para no ponto, ela pede desculpas por nos chatear com aquele assunto. Nos despedimos. Michelle entra na primeira rua à direita, nós, na primeira à esquerda.

Quando?

 

Quando começamos a terminar?

Quando é o começo?

Quando é o fim?

Quando? Quando é o começo do fim?

 

Quando tomaremos uma decisão?

Quando saberemos que foi correta?

Quando aceitaremos que foi correta?

Quando? Quando decididos, decidiremos?

 

Quando enxergamos que fortes, somos frágeis?

Quando damos conta que nossos amores, envelhecem?

Quando entendemos que a presença, é o melhor presente?

Quando? Quando a fragilidade é reflexo da força?

 

Quando entendemos que conhecendo mais, sabemos menos?

Quando o não, é incentivo?

Quando o sim, é conveniente?

Quando? Quando nosso incentivo é conveniente?

 

Quando falar sobre guerra?

Quando falar sobre paz?

Quando falar sobre amor?

O quando… não se acaba jamais.

Pobre São Paulo, cidade onde até o tempo tem pressa!

A caótica, apressada e 24 horas…. São Paulo.
A cidade que não pára nunca.

Exceto das 7 as 10 da manhã ou das 17 as 20 horas quando os carros, ao contrário dos pedestres, levam mais de uma hora para andar 4 quilômetros.

A cidade caótica e apressada que fica ainda mais caótica quando as “apressadas” ambulâncias, com suas sirenes ligadas, ficam por preciosos minutos paradas em frente ao mesmo número de qualquer uma de suas grandes, (algumas) famosas e também apressadas avenidas.

A mesma São Paulo que os motoristas buzinam a todo o momento, como se aquele que está a sua frente no caótico, apressado, porém parado trânsito, estivesse ali por desejo.

Aquele lugar onde motoristas de ônibus, apressados, pois lá dentro, além de amontoados, todos estão apressados, fecham os cruzamentos que bloqueiam as ambulâncias, os motoristas e claro os motociclistas.

Motociclistas estes que, por sua vez, buzinam para os motoristas dos ônibus parados no cruzamento, que buzinam para os pedestres, os únicos que continuam andando a 4 Km/h.

Todos estão correndo para recuperar (ou tentar recuperar) o tempo perdido parado ali, entre buzinas, sirenes, meios de transportes e xingamentos.

Em São Paulo, nada dá tempo.

Conversando estes dias com um gaúcho que passou uma semana na cidade, ele me contou de sua ida ao nosso Aeroporto Internacional:

“Naquele dia que voltei peguei sol, peguei chuva, peguei alagamento e ventania. Tudo isso em apenas 3 horas”

Depois que ele me disse isso pensei.

Pobre São Paulo, cidade onde até o tempo tem pressa!

Objetivar o Subjetivo e Subjetivar o Objetivo.

 

Estive pensando estes dias sobre a Subjetividade dos sonhos, a dificuldade de transformá-los em realidade (Objetivá-los) e, depois de tê-lo tornado real, como aproveitá-los de forma Subjetiva.

É meio confuso, mas vamos lá…

Nestes meus pensamentos, chamei de Subjetivo tudo aquilo que você gosta e deseja fazer. Aquilo que realmente te distrai, que te faz passar horas sem perceber que elas passaram. Tratei como Subjetivo os sonhos, os anseios, os desejos, as coisas simples que gostamos de fazer “nos dias que temos para nós”.

Chamei de Objetivo a forma racional de tornar realidade o Subjetivo.

O exemplo mais social no Brasil desta ideia, acredito que seja a compra de um carro.

Vamos lá, o cara tem o sonho de ter um carro (Subjetivo), ele faz a conta de quanto e como pode pagar (Objetivo) e compra seu carro (Realidade)…

Legal, mas e agora?

Não quero discutir a relação “renda x parcela” ou qualquer outra questão que esta “conta” possa levantar, mas sim do “e agora?”

O Subjetivo (ter um carro) passou para o Objetivo (quanto e como pagar) e virou realidade (carro na garagem), mas qual é agora a nossa relação com esta conquista?

Vejo que muitas vezes não a aproveitamos Subjetivamente.

Imediatamente após alcançarmos nossos “Subjetivo-Objetivo-Realidade”, ele já virou passado e passamos a buscar novos desejos sem aproveitarmos tudo aquilo que já conquistamos anteriormente.

Esta experiência que estou vivendo e o “tempo para mim que conquistei Objetivamente”, me fez começar a entender que o Subjetivo, seja ele qual for, pode ser atingido se planejado Objetivamente, mas se um Objetivo alcançado não for vivido Subjetivamente de nada valeu torná-lo Realidade.

Subjetive-se, Objetive-se e, quando Realizar, Subjetive-se outra vez para desfrutar, senão, “os dias que temos para nós” serão, sempre, dedicados aos outros.

TGV Rennes-Paris (25/07/2013)

*Deixei propositadamente algumas palavras com a primeira letra maiúscula.

Após 23 anos, não ví nada sobre o Muro de Berlim, mas… a culpa é nossa!

Esta semana completou 23 anos da queda do muro de Berlim.

Em 09 de Novembro de 1989 chegou ao fim o que talvez seja o maior conflito da história recente da humanidade, a Guerra Fria. O principal símbolo desta “guerra silenciosa” era o Muro de Berlim.

Ele representava fisicamente a fronteira do comunismo e do capitalismo. Dividia a então RDA (República Democrática Alemã) Comunista, sim, a República Democrática Alemã era o lado Comunista do país, da Alemanha Ocidental, então Capitalista.

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Famílias foram separadas, algumas até para sempre, pelo muro construído pelo governo da RDA, ou Alemanha Oriental, para que seus moradores não tivessem chance de “fugir” para o outro lado, para a Alemanha Ocidental.

Segundo o jornalista Michael Meyer em seu livro “1989 o ano que mudou o mundo” da editora Zahar, a queda do muro foi uma união de coincidências e não um movimento organizado para que isso acontecesse. Mas de qualquer modo, este acaso, encerrou um dos períodos mais tristes e sangrentos, isto mesmo, sangrento, da história contemporânea.

Durante a Guerra Fria, tivemos a Guerra da Coréia que encerrou a vida de mais de 32.000 soldados americanos e aproximadamente 3.000.000 (três milhões) de civis coreanos. A guerra do Vietnã matou 58.000 soldados e, estima-se que, 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) vietnamitas foram mortos durante os 7 anos de guerra. Na guerra civil Angolana, que durou 27 anos, acredita-se que em torno de meio milhão de pessoas perderam a vida.

Estes números já são assustadores, mas eles parecem pequenos se comparados aos 30.000.000 (trinta milhões) de chineses mortos na Revolução Cultural de Mao, ou os outros também 30.000.000 (trinta milhões) que pereceram nas guerras e expurgos de Stálin.

A queda do muro representou o fim das barreiras comerciais e econômicas que eram impostas, principalmente pelos Estados Unidos, aos países comunistas, com destaque para a antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

Mas qual é o motivo de a mídia não dar destaque digno a este fato tão importante para a história do mundo?

Por que os grandes veículos de comunicação não fazem matérias especiais sobre este fato, assim como fazem TODOS OS ANOS do 11 de setembro?

Será que o 11 de setembro representa para o mundo, mais do que o fim da Guerra Fria?

Ao contrário do que você está pensando, A CULPA NÃO É DA MÍDIA que é “vendida aos Yankkes”.

A culpa é de todos nós que nos importamos, algumas vezes até mais, com os Estados Unidos do que com o Brasil.

A culpa é de todos nós que insistimos, anualmente, em recordar o que fazíamos em 11 de Setembro de 2001.

A culpa é de nós, brasileiros, que não nos importamos com a reconstrução da região serrana do Rio de Janeiro e sim com a reconstrução de Nova Iorque afetada pelo furacão Sandy.

A culpa é nossa por preferirmos ir ao cinema assistir as explosões Hollywoodianas para salvar a “bandeira da América” ao invés de “nos esforçarmos” a assistir algo que nos leve à alguma reflexão.

Infelizmente, A CULPA É NOSSA.

A Sala São Paulo e sua região representam o abismo social brasileiro.

Hoje fui a Sala São Paulo, localizada ao lado da Estação Júlio Prestes, no centro velho da capital paulistana.

Com sua finíssima, moderna e européia estrutura para concertos, a Sala São Paulo parece ser um mundo à parte da sua região.

Dentro da Sala, na simples, mas charmosa Cafeteria, duas taças de champagne são servidas por R$ 32,00. Consumindo-as está um “meio-jovem” e “meio-nobre” casal. Antes de sentirem o prazer do líquido envolvendo suas gargantas eles brindam, talvez pela felicidade de ambos ou para que o espetáculo que estava por vir fosse agradável aos seus ouvidos.

Do lado de fora, a cerca de 100 metros da Sala, há uma movimentação intensa de pessoas que também gastam R$ 32,00 para consumo, mas o produto comprado não será consumido em uma bela taça mas sim nos cachimbos improvisados feitos com latas de alumínio e tubos de pvc.

Entre este abismo social, intelectual e humano está um carro da Polícia Militar fazendo a barreira entre os “nobres” e os “nóias”.

Dentro da Sala, no horário marcado, todos já estão sentados em suas poltronas quando é tocado o terceiro sinal. As portas são fechadas e ninguém mais entra na sala onde o Coral da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – se apresentará por cerca de uma hora e meia.

Vozes competentes levam os espectadores ao delírio a cada nota, o visual da sala é claramente inspirado em salas de concertos européias, ali dentro, com o olhar voltado para a beleza do espetáculo você sente-se isolado do mundo.

Do lado de fora, continua o consumo do Crack, lá eles também estão com o olhar vidrado, mas o espetáculo que eles enxergam é a fumaça que sai de seus cachimbos e o impacto instantâneo que aquilo causa em suas mentes.

Lá dentro, a alucinação causada pela bela obra clássica é saudada com palmas como forma de agradecimento do público aos artistas e, como resposta, a tradicional saudação dos artistas curvando-se em direção a platéia.

Lá fora a alucinação causa desespero, agonia e a necessidade de conseguir mais dinheiro pois o efeito passará em breve e será necessário o novo show do Crack na vida daquelas pessoas.

Entre os dois mundos, permanece imóvel a viatura da Polícia Militar, sabe que está ali representando o biombo entre as “duas sociedades”.

Após o espetáculo vi que em uma das portas há uma placa informando “Camarote do Governador”. Acredito que ele nunca tenha aparecido por ali, ou então, certamente antes de seu comparecimento, algum orgão estadual passou com sua “vassoura” para espalhar os “moradores” da região.

Hoje cheguei a conclusão que a Sala São Paulo e sua região representam o abismo social brasileiro.

Mídias Sociais ou Médias Sociais?

Hoje reparei uma coisa, não sei se sites como o Facebook  devem ser classificados de Mídias ou Médias Sociais.

Muitos podem me chamar de desinformado argumentando…. “Será que ele está louco? As mídias sociais estão se tornando instrumentos importantíssimos na queda de governos repressores, como por exemplo, na Primavera Árabe. E ele ainda vem chamar de média?”.

Além disso também podem dizer….  “Ele não deve se lembrar do rapaz que foi sequestrado e morto, porém foi localizado por seus familiares rapidamente, graças a sua irmã que postou uma foto dele e milhares de brasileiros a compartilharam.”

Penso em desistir de continuar escrevendo, afinal, devo realmente estar sendo injusto acusando grande parte de meus amigos das Médias, ops, Mídias Sociais – que realmente conheço-os no mundo real – de fazerem “média online”.

Claro que a média online não é exclusividade daquele pessoal que fica do lado esquerdo do meu perfil no Facebook, ele está espalhado do lado esquerdo de todos os perfis cadastrados no site.

Vejo, vindo da mesma pessoa, posts do tipo “Meu time é f…., basta ele para eu viver” e na sequência alguma “causa nobre” sendo defendida, por exemplo, nas últimas semanas, as discussões sobre a construção da usina de Belo Monte – impulsionadas por um clipe com atores “globais” – e os discursos de “para onde irão as populações ribeirinhas”, ou ainda, “vamos alagar uma área enorme de nossa floresta”.

Outra “causa nobre” é também a foto de um índio sendo arrastado a força, e com força absolutamente desproporcional, por agentes da lei também por conta da desocupação para construir a usina. Meu Deus, se neste post, eu colocar uma foto qualquer de uma criança chorando e dizer que é uma família que está sendo despejada vocês irão acreditar e compartilhar? E o que dirão para defender a minha farsa?

Será que algum dos meus amigos defensores de “causas tão nobres” deixaria de ir no jogo de Domingo para ir a uma passeata contra a construção da usina ou, ao ser convidado para o evento, simplesmente “clicaria em Eu vou” para fazer número e imaginar que esteja fazendo sua parte?

Tudo bem, você não quer perder seu tempo com os amigos com isso, ok. Por quanto tempo, sentado na mesa de um bar, você discutiria sobre esse assunto com seus amigos, defensores online desta “nobre causa”? No máximo cinco minutos até que um dissesse “Mas que assunto chato heim”, e então voltariam a falar de futebol.

Assisti a um vídeo feito por alunos da Unicamp que traz alguns contrapontos em relação ao vídeo dos globais, este, infelizmente, não ví sendo divulgado pelos “bem-feitores online”. Por qual motivo? Será que já haviam assinado o “Movimento Gota D’Água” já que era rapidinho e os artistas globais até te esperavam fazer isso?

Não sou contra nem a favor da construção da Usina. Quero me informar mais por mídias com ideologias diferentes antes de me posicionar. Eu também não sei se deixaria o jogo de domingo para ir a uma passeata, mas certamente vocês não me verão “postando” nas Médias Sociais, digo, Mídias Sociais coisas por fazerem parte das “causas nobres” ou em defesa das “injustiças sociais” divulgadas “online” que, na grande maioria das vezes, não possui o devido respaldo na “vida real”!

Ahhh, pra fechar a idéia, no caso da Primavera Árabe, eles foram para as ruas, por isso o movimento deu resultado. Se os reprimidos tivessem apenas clicado em “Eu vou” em seu perfil do Facebook, certamente os ditadores continuariam em seus cargos até hoje.

Os professores devem conduzir seus alunos ao debate ou ao embate?

No dia 22/11/2010 apresentamos um trabalho sobre Ditadura Militar como parte da disciplina de História do Jornalismo na Universidade onde estudo.

Para este trabalho, cada grupo ficou responsável por entrevistar um jornalista que atuou durante o Regime Militar no Brasil (1964 a 1985), e expor suas experiências dentro da imprensa e sua “versão” a respeito deste conturbado e violento período da história política brasileira.

Entrevistamos o Sr Dalísio Domingues dos Santos, 68, que atuou em grandes veículos de comunicação, ocupando vários cargos diferentes ao longo de sua carreira jornalística que estendeu-se de 1960 até 1991.

Como nosso entrevistado tem a visão ideologicamente contrária à do professor, tivemos muitas dificuldades em apresentar o trabalho. A cada trecho de áudio retirado da entrevista apresentado, um embate imediato emergia por parte do professor.

Frases como “isto que ele está dizendo são inverdades”, “preciso esclarecer que não é bem isso para que vocês não fiquem com esta idéia, ela é errada”, ou ainda “o pensamento dele é o mesmo do exército” dando a conotação de que aquilo estava absolutamente errado foram ditas sem qualquer parcimônia.

Em alguns momentos, honestamente, acho que houve falta de respeito com o profissional que estava totalmente enquadrado ao perfil determinado para ser utilizado como base para este trabalho, e que tem sua própria visão dos fatos. Vou estender este entendimento para nós que estávamos levando aquelas idéias como forma de enriquecer, ou ao menos tentar, o conhecimento dos alunos.

Não tenho a intenção de defender nenhum dos dois lados e achei interessante apresentar aquela idéia, justamente por ir ao encontro de como foram conduzidas as aulas que utilizaram como tema o Regime Militar.

É correto um professor de universidade dizer abertamente que as greves devem ser feitas na Av. Paulista para que sejam vistas, e os que não concordam com isso são egoístas e que olham somente para o próprio umbigo?

É aconselhável que um mestre afirme a seus alunos que, caso tivesse vivido esta época, teria pegado em armas para combater o regime militar?

Será que pessoas que possuem uma ideologia e um pensamento tão “definido” podem formar futuros comunicadores?

A Universidade é o local para discutir e formar idéias ou é onde devemos nos contentar com o óbvio, com o consenso, com aquilo que é encontrado como o primeiro resultado nas buscas do Google?

Por fim, nossos mestres devem nos conduzir a um embate ou debate?
Minha resposta. Debate.

O que entendo ter ocorrido durante nossa apresentação?
Minha resposta. Embate.

Como serão os próximos 4 anos?

Escuto rojões….

Não lembro de nenhuma manifestação como esta em eleições anteriores aqui em São Paulo.

Pouco mais de 3 horas após o encerramento do pleito, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Ricardo Lewandowski fez oficialmente o anúncio dizendo que com 55% dos votos, o Brasil elegeu a primeira mulher presidente de sua história, Dilma Vana Rousseff.

Esta mulher certamente ficará para a história da, ainda jovem, democracia brasileira.

Impulsionada (ou apadrinhada) por um presidente que também entrou para a história por ser um metalúrgico eleito após várias disputas eleitorais, e além disso, este homem deixará o governo com o recorde de aprovação de um governo brasileiro, cerca de 80% da população brasileira o aprovam. Não bastasse isso, este homem é muitíssimo respeitado pelos líderes mundiais por seu carisma.

Mas o que esperar dos próximos 4 anos?

Politicamente nossa presidente, prefiro assim do que presidenta como ela gosta de dizer, tem um caminho seguro pela frente, pelo menos em relação a quantidade de aliados para conseguir a aprovação de seus projetos. Estes aliados representam mais de 50% do Congresso Nacional, o que, em teoria, impede a governante de obter derrotas como a queda da CPMF sofrida durante o Governo Lula após uma imensa briga política.

Teremos a frente de nosso país uma presidente que não tem, nem de longe, o mesmo carisma nem a mesma capacidade de comunicação de seu antecessor e acredito que estas são duas qualidades imprescindíveis para os chefes de estado. Não estou querendo dizer que seu oponente teria.

Não consigo imaginar qual será sua postura quando estiver frente a líderes como o iraniano Marmud Armadinejad. Não ví em nenhum momento ela “falar sem gaguejar”.

Torço, com toda honestidade, para que Dilma torne-se mais admirada por todos do que o atual presidente. Mesmo acreditando que isso seja quase impossível, até por ser sua sucessora.

Espero, com toda paciência, que ela consiga cumprir metade do que foi prometido durante esta fraca e agressiva campanha que não nos trouxe nada demais nem nada a mais.

Não acredito, esta talvez seja minha maior crença, que o Brasil será prejudicado por ela ter entrado nem que seria muito diferente se o Serra fosse nosso representante pelos próximos 4 anos.

Me incomodei em ver Antonio Palloci e José Sarney tão próximos a ela em seu primeiro discurso após a eleição, isso me fez crer que realmente nada mudará nos próximos 4, ou talvez 8 anos.

Me incomodo em achar que o Palhaço Tiririca talvez seja o “pior” palhaço que temos como representante, já que sabemos que alguns que riem na nossa frente para conseguir votos, depois riem da nossa cara por fazer suas vidas as nossas custas, e como troco/esmola, alguns recebem um valor mensal do governo para manterem as crianças na escola, mas acho que podíamos pelo menos ter escolas com qualidade para formar futuros cidadãos informados. Aqui obviamente me refiro aos Governos Federal, Estadual e Municipal.

Já tive a oportunidade de conversar com pessoas que recebem estes benefícios oferecidos pelo Governo Federal e ví o quanto isso representa para eles. Gosto de saber que as pessoas podem viver bem em sua terra natal e que assim não precisam ir para outros estados para conseguir ganhar a vida, mas voltando a campanha eleitoral de 2002, o discurso foi de “não dar o peixe e sim ensinar a pescar”, não creio que isto esteja sendo feito.

Talvez daqui 4 anos todos estarão surpresos com o governo conduzido por esta mulher.

Torço para que esta frase torne-se realidade mas infelizmente não acredito nisso hoje, dia seguinte da eleição.

De qualquer forma, acredito que o melhor a fazer é apoiar o “novo” governo pois temos muito o que fazer/pagar nos próximos anos….

Copa, Olímpiadas, Eleições (sim, nós pagamos 4 milhões pela publicidade de “Leve o Título mais um documento com foto” para, 2 dias antes do primeiro turno esta obrigatoriedade ser derrubada pelo governo e todo este dinheiro “escorrer” pelo ralo da política).

Vamos confiar, fiscalizar e não vamos deixar de AGIR quando for preciso.

Abraço