A Sala São Paulo e sua região representam o abismo social brasileiro.

Hoje fui a Sala São Paulo, localizada ao lado da Estação Júlio Prestes, no centro velho da capital paulistana.

Com sua finíssima, moderna e européia estrutura para concertos, a Sala São Paulo parece ser um mundo à parte da sua região.

Dentro da Sala, na simples, mas charmosa Cafeteria, duas taças de champagne são servidas por R$ 32,00. Consumindo-as está um “meio-jovem” e “meio-nobre” casal. Antes de sentirem o prazer do líquido envolvendo suas gargantas eles brindam, talvez pela felicidade de ambos ou para que o espetáculo que estava por vir fosse agradável aos seus ouvidos.

Do lado de fora, a cerca de 100 metros da Sala, há uma movimentação intensa de pessoas que também gastam R$ 32,00 para consumo, mas o produto comprado não será consumido em uma bela taça mas sim nos cachimbos improvisados feitos com latas de alumínio e tubos de pvc.

Entre este abismo social, intelectual e humano está um carro da Polícia Militar fazendo a barreira entre os “nobres” e os “nóias”.

Dentro da Sala, no horário marcado, todos já estão sentados em suas poltronas quando é tocado o terceiro sinal. As portas são fechadas e ninguém mais entra na sala onde o Coral da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – se apresentará por cerca de uma hora e meia.

Vozes competentes levam os espectadores ao delírio a cada nota, o visual da sala é claramente inspirado em salas de concertos européias, ali dentro, com o olhar voltado para a beleza do espetáculo você sente-se isolado do mundo.

Do lado de fora, continua o consumo do Crack, lá eles também estão com o olhar vidrado, mas o espetáculo que eles enxergam é a fumaça que sai de seus cachimbos e o impacto instantâneo que aquilo causa em suas mentes.

Lá dentro, a alucinação causada pela bela obra clássica é saudada com palmas como forma de agradecimento do público aos artistas e, como resposta, a tradicional saudação dos artistas curvando-se em direção a platéia.

Lá fora a alucinação causa desespero, agonia e a necessidade de conseguir mais dinheiro pois o efeito passará em breve e será necessário o novo show do Crack na vida daquelas pessoas.

Entre os dois mundos, permanece imóvel a viatura da Polícia Militar, sabe que está ali representando o biombo entre as “duas sociedades”.

Após o espetáculo vi que em uma das portas há uma placa informando “Camarote do Governador”. Acredito que ele nunca tenha aparecido por ali, ou então, certamente antes de seu comparecimento, algum orgão estadual passou com sua “vassoura” para espalhar os “moradores” da região.

Hoje cheguei a conclusão que a Sala São Paulo e sua região representam o abismo social brasileiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *