Que sorte tenho eu na vida!

Nestes dias tava pensando
Que sorte tenho eu na vida
Nasci pobre na cidade grande
Mas sempre trilhei minha vida

Sempre tive carinho de mãe, irmã, amigo e amiga
Sempre tive um irmão-pai, pois meu pai partiu cedo desta vida
Sempre tivemos tudo, sem nunca termos muito
Sempre tivemos um ao outro e o outro ao um
Isso que é vida!

Tenho primos que são irmãos, irmãos que se escolhem na vida
Tenho amigos que são daqueles, que não se desperdiça na vida
Tenho alguém do meu lado, daquele que poucos acham na vida

Depois de dizer tudo o que disse
Só me resta afirmar
Que sorte tenho eu na vida!

(29/12/2018)

Se encontre consigo

Algumas vezes encontrar-se com você
Está bem mais perto do que você crê
Está ali, em cima de uma mesa
Naquele bloquinho onde vão tuas certezas

Na música nova
No acorde que não vem
Naquele sorriso
Que te faz tão bem

Algumas vezes o encontro com você
Tá mesmo do lado, é só perceber
Está naquilo que sempre quis fazer
E que até hoje deixou de viver

Algumas vezes o encontro com você
É ser aquilo, que sonha viver

Seja poeta ou compositor
Seja atleta ou mesmo cantor
Seja isso ou aquilo
Ou seja lá o que for

Se encontre consigo
Onde você for

(29/12/2018)

Tempos sombrios

Sombrio como Caravaggio
Assustado como os olhos de Bosch
Espichado como as face d’El Greco
E sem o colorido de Raphael

Os tempos que chegam
Parecem de trevas
Sem diálogo ou permissão
Parece que voltaremos à inquisição
O não pelo não
O estado pela religião

O corrupto fazendeiro
O motorista cheio de dinheiro
Não importa a explicação
Um sempre diz que sim
Enquanto outro diz que não

Não, alguém Livre não é a solução
Mas também não adianta tanto fuzil na mão
Quem mais sofre, sempre pede permissão
É sempre “mão na cabeça” ou “posso olhar, patrão?”

O livro é coisa rara na mão
De quem a letra foi roubada
Um bom livro é um oitão
De quem a infância foi roubada
Quando grande brinca de polícia e ladrão

Mas tem aqueles que tiveram tudo
Letra, infância e educação
Nasceram vitoriosos
E vitoriosos foram na eleição

Agora, do alto de seus gabinetes
Controlam os livros, as drogas e até mesmo o oitão
Lavam as mão com o sangue de todos
Eu disse de todos
Que morrem todos os dias
Por causa de toda a nossa corrupção.

(26/12/2018)

Numa folha branca de papel

Numa folha branca de papel
Cabe saudade, cabe paixão
Numa folha branca de papel
Cabe de tudo, amor, compaixão

Numa folha branca de papel
Cabe a guerra e a traição
Numa folha branca de papel
Cabe fome, miséria e reclusão

Numa folha branca de papel
Cabe tudo que for negativo
Numa folha branca de papel
Cabe a esperança do desiludido

E a folha branca de papel
Vai ficando toda preenchida
Risco a risco, linha a linha
Com a história de uma vida

Numa folha branca de papel
Cabe de tudo mas tenha atenção
Na folha branca de papel
Não cabe a história de uma vida em vão

(25/12/2018)

Coisas da Diogo

O futebol na esquina
O vôlei mais pra cima
O hockey lá no alto
O basquete no asfalto

O cerol passado calmamente no chão
Mais uma pipa entrando na mão
Uma tacada que pega na veia
Perdeu a aposta, o tênis e a meia

O campeonato de futebol de botão
A bolinha de gude sempre na mão
Algumas vezes um balão
Noutras um pião

O Maximus subindo o monte da construção
Essa era a nossa diversão

Aquela época sem tanta tela e exibição
Não sei se foi a melhor época não
Mas foi sem dúvida uma era
com muito mais interação.

Daniel Baldini 28/12/2018

Sou um Jeca da cidade

 

Cresci no meio do asfalto.

Correndo atrás da bola,

Tomando bronca de vizinho.

Os bichos que eu via?

Alguns cães e passarinhos.

 

Vez ou outra viajava.

Via vacas e galinhas.

O café secando ao sol,

E no pilão ficar fininho.

 

– Pega um ovo lá no fundo!

Alguém corria pra buscar.

O riozinho era o tanque.

E na grama, a roupa a quarar.

 

Eu olhava e pensava.

Estranho jeito de viver!

Na cidade é tudo pronto.

É só pegar e comer.

 

Os anos foram passando,

e o sentimento alterando.

 

Hoje,

Na fazenda sou urbano.

Na cidade, um camponês.

Ao meu amigo Tulipão

Era, sei lá, Novembro ou Dezembro de 2004.

Eu, a Mari, o Alê, a minha mãe e a minha vó fomos ao cinema assistir ao filme do Cazuza.

Nunca tivemos tabus sociais nem religiosos dentro de casa. O mundo sempre nos foi apresentado da forma que ele é e as pessoas exatamente como são. Algumas vezes usamos “adjetivos politicamente incorretos” – isso tenho trabalhado para eliminar – mas mesmo assim, fomos ensinados que não basta apenas respeitar a diferença e manter distância. Fomos ensinados que esta diferença não faz a menor diferença para o convívio social. Afinal, outras visões de mundo sempre foram bem vindas em casa.

Digo orgulhosamente – e vou usar nomes fortes de propósito 🙂 – que traficante, maconheiro, cheirador, viado, pai de santo, mãe de santo, muçulmano, kardescitas, cristãos, putas, lésbicas e seja lá “o que for”, sempre tiveram as portas abertas em casa, NUNCA foram desrespeitados e NUNCA trouxeram nenhum problema para nós. Muito pelo contrário, tenho lembranças maravilhosas dos que passaram por lá e daqueles com quem conversei, ou trabalhei, por aí.

Bom, voltando ao filme…. Era possível imaginar que um filme contando a história deste “bicha e maconheiro – O tempo não pára -” que morreu por causa da “doença da sua era”, como alguns dizem, fosse algo simples para nós. Porém, minha vó, nascida lá em 1923, não fazia parte do “dentro de casa” que citei. E como quando ela nasceu a Av. Tiradentes era mais ou menos assim.

Fonte: Histórico Demográfico do Município de São Paulo. Link: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1920.php

Eu realmente fiquei um pouco apreensivo durante o filme.

Quem assistiu sabe que talvez até a metade é, resumidamente, festa, putaria e droga o tempo todo. E claro, por ser homossexual, esta “temática” foi explorada nas cenas resumidas acima.

Fiquei desconfortável pois não sabia qual seria a reação daquela senhora de 80 anos – que talvez tivesse ido ao cinema outras 2 ou 3 vezes na vida e, ainda talvez, entre as décadas de 50 e 80 -, sentada a 3 ou 4 poltronas de mim ao ver aquela realidade tão diferente. Ali, um pouco romantizada, mas ainda assim, aos meus olhos, para ela, agressiva.

Saí do cinema emocionado com o filme mas incapaz de conversar sobre ele naquele grupo. Uma fraqueza clara. Tinha medo do que minha vó poderia dizer.

Meu irmão, com toda tranquilidade, sem rodeios perguntou: “E aí Vó, gostou do filme?”

Eu pensei: “Meu Deus, como ele pôde perguntar isso?” e, sorrindo, lembro-me de ter olhado em seu rosto.

Serena, ela respondeu: “Gostei muito. Ele viveu do jeito que ele quis“.

Com esta pergunta e esta resposta aprendi 3 coisas:

1 – Não deixe de perguntar por medo.

2 – Minha avó, embora tenha nascido em outra época e tenha preconceitos “vindos daqueles tempos”, é muito mais evoluída do que muitas pessoas “destes tempos”.

3 – Viva do jeito que faz você feliz.

Antes que seja covarde

Olhe para si mesmo e não! Não seja covarde!

Veja como se expressa e não! Não seja covarde!

Olhe para frente e tente adivinhar o que te espera mas não, não seja covarde!

Olhe para trás e orgulhe-se de tudo o que conquistou, justamente por não ser covarde.

Mas quando olhar para trás, não se esqueça de pensar em quantas pessoas já prejudicou por pura covardia.

Com uma palavra, com um gesto ou com um simples comentário durante o dia…

Pense e, se não for covarde, desculpe-se.

Faça isso!

Antes que seja covarde.